quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Carta de amor




Quero que de dentro de mim brote uma árvore e que dela frutos doces, amargos, serenos, pungentes; de cores surpreendentes e de texturas também estrangeiras: falem meus saberes e confusões longe do verbo e que dêem ao teu palato o que eu – enquanto carne que fala – não consigo te exprimir sem ofender um dos teus sentidos.

Que essas raízes de mim – à superfície - te mostrem os caminhos tortuosos na busca do meu – solo fértil de paz.

Que tu possas, numa primavera bem próxima, ver os brotos verdes, embriões de coisa nova e que, logo que o verão se assentar, vingarão e voarão - pendurados na gravidade – acoplados no aparato vivo que sustenta: organismo frágil e forte.

E, se eu me fizer flor, que de mim vejas – seja em contorno formoso, útil ou desajeitado – coisas que te expliquem aos sentidos (sem mapas ou necessidade das estrelas) o que me faz de bom, tu.

E de tudo isso; de ser árvore, fruto, raiz, broto e flor, desejo que você colha o conforto do abraço de amor, que fala docemente, nesses dias, e desde sempre, do que fez esse laço, assim, de aço.